casamento: parceria completa.
Como ideal a
ser levado a sério e bem usufruído, o casamento é um contrato de parceria de
duração contínua, assumido espontaneamente entre um homem e uma mulher, por força
e obra daquele sentimento que acompanha o ser humano desde a criação, a que se
dá o nome de amor. Casamento não é dominação de um sobre o outro. Nem dele nem
dela. É parceria. Parceria a vida inteira. Parceria total. Parceria em tudo:
Na troca de atenções
Na manutenção da paz
Na liberdade da queixa
Na
generosidade do perdão
No progresso
da cordialidade
Na economia do
lar No governo da casa
Nas
responsabilidades domésticas
Nas
compras e nas vendas
Na eventualidade das mudanças
No
traçar dos alvos
Na
semeadura prolongada
Na colheita dos frutos Na
alegria e na fartura
Na adoração e nas ações de graça
No
planejamento familiar
Na
realização sexual
Nos nomes
dados aos filhos
Na educação dos filhos
No
exemplo a ser mostrado
Na
devoção a DEUS
Na
santificação do lar
No aperfeiçoamento
do caráter
Na privação da soberba
Na caminhada rumo à
plenitude da salvação
Nos
cuidados com a saúde
No
sofrimento da doença
No
derramar das lágrimas
No
enfrentamento da morte
Na maneira
de lidar com as perdas
Um casamento
assim, caracterizado pela parceria a vida inteira, pela parceria total, chega
aos 25 anos, chega aos 30 anos, chega aos 50 anos, chega aos 70 anos. Em um
casamento assim, comemoram-se todas as festas de aniversário da união: as bodas
de madeira, estanho, cristal, porcelana, prata, pérola, coral, esmeralda, rubi,
ouro, diamante, ferro e brilhante. Um casamento assim, só a morte acaba com ele.
A parceria é uma estratégia essencialmente cristã, apropriada não só para a
relação conjugal (entre o marido e a esposa), mas também para a relação
familiar (entre pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, irmão e irmão,
primo e primo) e para a relação eclesial (entre pessoas ligadas entre si não
pelo sangue, mas pela adoção, por terem recebido graciosamente o "direito
de se tornarem filhos de Deus"). A prática da parceria é explícita na
teologia do Novo Testamento. A expressão "uns aos outros" aparece
várias vezes nas Epístolas de Paulo, Pedro e João:
"Amem-se
sinceramente uns aos outros, porque o amor perdoa muitíssimos pecados" (1
Pe 4.8).
"Dediquem-se
uns aos outros com amor fraternal" (Rm 12.10). "Aceitem-se uns aos
outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a
Deus" (Rm 15.7).
"Vivam
em paz uns com os outros" (1 Ts 5.13).
"Levem
os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo" (Gl
6.2).
"Exortem-se
e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo" (1 Ts 5.11).
"Sirvam-se
uns aos outros mediante o amor" (Gl 5.13).
"Sirvam
uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus" (1 Pe 4.10, ).
"Pratiquem
a hospitalidade uns com os outros, sem murmurar (1 Pe 4.9,).
"Tenham
uma mesma atitude uns para com os outros" (Rm 12.16).
"Deixemos
de julgar uns aos outros. Em vez disso, façamos o propósito de não colocar
pedra de tropeço ou obstáculo no caminho do irmão" (Rm 14.13).
"Sejam
humildes uns para com os outros" (1 Pe 5.5).
"Saúdem
uns aos outros com beijos de santo amor" (1 Pe 5.14). A parceria a vida
inteira, a parceria total, começa no amor, trafega pela renúncia,
exterioriza-se no beijo aquele gesto
singelo, incontido e inefável e afasta
para sempre a idéia, o desejo e a necessidade da separação e do divórcio!
o casamento na era
patriarcal.
Na linguagem
religiosa e em sentido restrito, o nome patriarca é dado aos três primeiros
pais da nação de Israel: Abraão, Isaque e Jacó. Chama-se de era patriarcal o
período de tempo que começa com o nascimento de Abraão na Mesopotâmia e termina
com a morte de Jacó no Egito. A história toda enche uns 300 anos e ocupa mais
de três quartos do primeiro livro da Bíblia (Gênesis 12 a 50). A data precisa é
difícil de estabelecer, mas alguns estudiosos colocam-na na metade da Idade do
Bronze, entre os anos 1.900 a 1.600 a.C. Em nenhum outro lugar da Bíblia há
tantas informações sobre problemas conjugais como na história familiar de
Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, e Jacó e Raquel. Os detalhes são numerosos e
muito esclarecedores. Nada é escondido. Os atritos entre marido e mulher, entre
esposa e concubina, entre sogro e nora, entre genro e sogro, entre pais e
filhos, entre irmãos e irmãs são narrados exaustivamente. Problemas provocados
pela esterilidade feminina, pela poligamia, pela inveja, pela vingança, pelas
decisões precipitadas, pelo favoritismo, pelas trapaças mútuas, por escândalos
sexuais graves, pelo estupro, pelo risco de perder a esposa em favor de outro
homem, pelo controle da natalidade, pela viuvez e pelo novo casamento vêm à
tona com a maior clareza possível. No bojo de toda miséria humana há também
lances admiráveis, como o amor sincero e sacrificial, a prática do perdão, a
firmeza de caráter, a solicitude, o aprendizado e o crescimento na fé em Deus e
na comunhão com Ele. Na verdade, os casamentos da era patriarcal são um
precioso laboratório de pesquisa para quem quer melhorar o seu matrimônio.
Basta tomar conhecimento dos erros cometidos por seus personagens e fechar
corajosamente as portas para eles.
abraão e sara.
Problemas
conjugais provocados pela beleza, pela esterilidade e pela precipitação.
O mais
famoso ancestral dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos, o pai na fé das
três religiões monoteístas do planeta, era um homem bem casado, mas não sem
sérios problemas conjugais. As esposas gostam de ouvir de seus maridos que elas
são bonitas. Foi isso que o noivo disse à noiva no poema atribuído a Salomão:
"Como você é linda, minha querida!" (Ct 4.1). Abraão fez a mesma
declaração a Sara: "Bem sei que você é bonita" (Gn 12.11). Em dois
momentos e lugares diferentes, o casal passou por uma situação muito
constrangedora. Exatamente porque a beleza de Sara chamava a atenção de todo
mundo, ela foi como que sequestrada tanto por Faraó, no Egito, como por
Abimeleque, em Gerar. A mulher de Abraão só não foi molestada sexualmente por
esses dois reis porque Deus protegeu o casal (Gn 12.10-20; 20.1-18). O problema
mais complexo, mais desgastante e mais prolongado, porém, foi provocado por uma
precipitação da esposa, dez anos depois de terem abandonado para sempre os
parentes e a terra natal, em obediência ao chamado de Deus. Porque nunca engravidava,
apesar das promessas de Deus de que teriam uma descendência "tão numerosa
como o pó da terra" (Gn 13.16) ou como as estrelas do céu (Gn 15.5), Sara,
num repente de entusiasmo e de abnegação, ofereceu ao marido a sua criada
pessoal para que ela desse a ele um filho. Então, Abraão foi para o quarto de
Hagar, para a cama de Hagar e se deitou com ela, provavelmente mais de uma vez,
porque não é todo dia que uma mulher tem condições de engravidar (Gn 16.1-4).
Uma vez grávida do marido da patroa, Hagar começou a se sentir importante e a
desprezar Sara. Aí a coisa complicou e muito. Sara brigou com Abraão: "Por
sua culpa Hagar está me desprezando" (Gn 16.5, ). Não era bem assim.
Todavia Abraão deu total liberdade à mulher e ela passou a maltratar de tal modo
a criada grávida, que Hagar achou por bem fugir para o deserto em direção ao
Egito, de onde era. Ali, junto a um poço, o anjo do Senhor (esta é a primeira
referência a anjo em toda a Bíblia), apareceu a Hagar e dispensou todo cuidado
à fugitiva. Aconselhou-a a voltar para casa e submeter-se à patroa. Disse que
ela estava grávida de um menino, a quem ela deveria dar o nome de Ismael, e
ainda acrescentou que a criança seria como um jumento selvagem e teria uma
enorme descendência. Emocionada, Hagar disse ao anjo: "Tu és o
Deus-que-me-vê, pois eu vi Aquele-que-me-vê". O poço passou a se chamar
"Poço daquele que vive e me vê" (Gn 16.13,14, ). Sara foi obrigada a
conviver com Hagar até o nascimento da criança, quando o marido estava com 86
anos (Gn 16.16). Depois foi obrigada a conviver não só com Hagar, mas também
com o menino dela, que era filho de seu marido, por um longo período de tempo
(14 anos), até o nascimento de Isaque, o filho da promessa, quando Abraão
estava com 100 anos (Gn 21.5). Por último, foi obrigada a conviver com a
ex-criada e com o meio irmão do seu próprio filho até a grande festa do desmame
de Isaque, provavelmente três anos depois do nascimento dele, e 17 anos de
convivência incômoda para ambas as mulheres e de circunstâncias difíceis para o
relacionamento conjugal de Abraão e Sara. A convivência entre as duas mulheres
não acabou em beijos e abraços. Hagar e Ismael foram expulsos da fazenda por
Abraão a pedido da esposa, só porque na festa do desmame Sara viu Ismael, de 17
anos, rindo de Isaque, de 3 anos. Não foi fácil para Abraão satisfazer o desejo
de Sara, que já não se referia a Hagar como "serva" (Gn 16.2), mas
como "escrava" (Gn 21.10). "Isso perturbou demais Abraão",
registra o texto sagrado, "pois envolvia um filho seu" (Gn 21.11). No
dia seguinte à exigência de Sara, Abraão colocou uma mochila de couro com água
e alguns pães sobre os ombros daquela que lhe dera o primeiro de todos os
filhos e a despediu. A mãe e o filho foram se afastando cada vez mais da
porteira sob o olhar de Abraão até desaparecerem por completo, cena exatamente
oposta à da parábola do Filho Perdido, em que o pai se põe junto à porteira
para ver o filho se aproximando cada vez mais até poder abraçá-lo e beijá-lo
(Lc 15.20). Abraão e Sara comemoraram bodas de madeira (cinco anos de
casamento), estanho (10), cristal (15), porcelana (20), prata (25), pérola
(30), coral (35), rubi (40), safira (45), ouro (50), esmeralda (55) e diamante
(60). Quase certamente comemoraram também bodas de platina (65), vinho (70), brilhante
(75) e outras sem nome. Quando saíram de Ur dos Caldeus (ao norte do Iraque),
os dois já estavam casados não se sabe por quanto tempo. Na ocasião, Abraão
tinha 75 anos (Gn 12.2) e Sara, dez anos mais nova que ele, 65 (Gn 17.17). O
casamento só acabou com a morte de Sara, aos 127 anos (Gn 23.1) 62 anos depois da saída de Ur, 51 anos depois
do nascimento de Ismael e 37 anos depois do nascimento de Isaque. Abraão, o
viúvo da mulher bonita, fez questão de sepultar a esposa na terra prometida,
mas ainda não recebida, não em túmulos alheios, porém numa propriedade
funerária própria. Ele comprou uma área onde havia uma caverna e um bonito
arvoredo, por um preço muito alto (400 moedas de prata, o equivalente a 4,5
quilos do precioso metal), 23 vezes mais cara que a propriedade comprada conforme
o costume da época. Foram mais por Jeremias em Anatote por 17 moedas de prata
(Jr 32.9), muitos anos depois. Conhecida como a Caverna de Macpela, esse lugar
tornou-se o cemitério de toda a família. Lá foram sepultados o próprio Abraão
(38 anos mais tarde), Isaque e Rebeca, Jacó e Lia (Gn 25.9; 49.29-32; 50.13).
TEM
CONTINUAÇÃO.
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