Da mesopotâmia ao egito via
canaã
Os 20 anos
passados na Mesopotâmia foram muito sofridos para Jacó (é ele quem o diz).
Solteiro, nos 7 primeiros anos, e casado, nos últimos 13. Trabalhando para o
sogro mais de dois terços do tempo (14 anos) e para ele mesmo apenas 6 anos. A
metade do tempo a serviço do sogro foi para pagar o dote de um casa- mento que
ele não pediu nem desejou. A cada 17 meses, o sogro mudava a bel prazer o seu
salário. No campo, muito calor de dia e muito frio à noite; em casa, insônia e
atrito com as mulheres (Gn 31.28-42). Economicamente valeu a pena, pois Jacó
ajuntou um rebanho de bois e jumentos, de ovelhas e cabras tão grande que
poderia aplacar a ira de seu irmão gêmeo, oferecendo-lhe 550 cabeças de gado e
mais algumas crias de camelas de leite (Gn 32.13-15).
Provavelmente
o melhor período da vida de Jacó foram os 17 anos de velhice que ele passou no
Egito sob a proteção de José e do faraó. Apesar de todos os problemas, a
família do patriarca permaneceu unida. O farrancho todo Jacó, suas mulheres secundárias (Raquel e Lia
já haviam morrido), seus filhos e noras e seus netos (33 de Lia, 16 de Zilpa,
14 de Raquel e 7 de Bila) foram residir na região de Ramassés, a melhor do
Egito. Ali, ele se reencontrou com José, o filho de seu grande amor, aquele que
estava desaparecido havia 13 anos, do qual se dizia que fora morto por um
animal selvagem. Aquele que nunca lhe deu trabalho nem dores. Aquele que nunca matou
ninguém (ao contrário de Simeão e Levi), aquele que nunca se deitou com Bila
nem com Zilpa (ao contrário de Rúben) nem com a nora (ao contrário de Judá),
nem sequer com a mulher de Potifar, que se entregou várias vezes a ele (Gn
39.7-15). Aquele que suportou a injustiça alheia (dos irmãos, de Potifar e do
chefe dos copeiros do faraó), dos 17 aos 30 anos de idade.
Uma família unida, apesar dos
pesares
Na velhice,
Jacó não perdeu por completo a memória. Mes- mo doente e no leito de morte, ele
reuniu todos os filhos, do mais velho (de uns 60 anos) ao mais novo (de uns 50
anos), e os abençoou um por um, misturando história com profecia. Lembrou-se
dos predicados, dos defeitos, dos escândalos de cada um deles e fez um resumo
maravilhoso da vida de José, a "árvore frutífera à beira de uma fonte,
cujos galhos passam por cima do muro" (Gn 49.1-33). E então morreu e
"foi reunido aos seus antepassados". Teve o enterro mais longo, mais
concorrido e mais sofisticado da história do povo de Deus. Além de todos os familiares
(exceto as crianças menores), todos os conselheiros do faraó, as autoridades da
sua corte e todas as autoridades do Egito, em carruagens e a cavalo, foram ao
sepultamento de Jacó em Canaã (o mesmo trajeto que seria feito muitos anos
depois por todos os descendentes de Jacó, por ocasião do êxodo). O corpo
embalsamado de Jacó, de 147 anos, foi colocado na caverna de Macpela, no
cemitério arborizado comprado por Abraão, onde já estavam seus avós (Abraão e
Sara), seus pais (Isaque e Rebeca) e sua segunda esposa (Raquel). (Gn 50 7-14.)
Apesar da
guerra familiar, da diversidade das mulheres (esposas e concubinas, mulheres de
"primeira classe" e mulheres "secundárias"), da diversidade
dos rebentos (filhos "legítimos" e filhos "ilegítimos") e
dos dois crimes sexuais cometidos em família a família de Jacó foi impressionantemente
unida, o que não aconteceu com a família de Isaque e de Abraão!
casamento:
encantamento
com obrigações e obrigações com encantamento.
Podemos ter
três visões a respeito do casamento: a visão demasiadamente otimista, a visão
demasiadamente pessimista e a visão prudentemente realista.
a visão demasiadamente otimista
É a visão
romântica demais, de alguns anos atrás, presente nos enredos de certos romances
de amor e de certas novelas. As mulheres falam em "príncipe
encantado" e os homens, em "a mulher de meus sonhos" ou "a
mulher de minha vida". As histórias de amor dessa linha focalizam quase
sempre apenas a fase de conquista e terminam com a duvidosa e eufórica
declaração: "E foram felizes
para
sempre". A esse respeito é oportuno transcrever um parágrafo do artigo
"Os casamentos de Charles e 'jogos subterrâneos'", do conhecido
psicanalista Contardo Calligaris, publicado na Folha de São Paulo de 14 de
abril:
"Romances
e filmes de amor, em sua esmagadora maioria, narram as peripécias dos amantes
até que consigam se juntar. Depois disso, parece óbvio que eles vivam "felizes
para sempre". Infeliz e freqüentemente, nos consultórios de
psicoterapeutas e psicanalistas, a história dos casais depois do cartão-postal
inicial é contada em versões bem menos sorridentes".
Está dentro
desse contexto a história do índio Peri e da não- -índia Ceci, no romance O
Guarani, de José de Alencar, escrito em 1857. E também a história dos
adolescentes Romeu e Julieta, que se apaixonaram num baile de máscaras em
Verona e no dia seguinte se casaram em segredo, já que suas famílias eram inimigas
entre si. A peça de William Shakespeare escrita em 1595 termina em tragédia:
primeiro Romeu comete suicídio na suposição de que a amada esteja morta; depois
Julieta, em face da morte do amado, também se mata.
A
desvantagem da visão exageradamente otimista é que os nubentes são muito
ingênuos e se casam despreparados. Não admitem dificuldade posterior alguma e
não tomam medidas preventivas.
O abandono
do romantismo ou do otimismo exagerado talvez tenha ido longe demais. Colocamos
na mesma bacia as vantagens e as desvantagens e jogamos tudo fora.
A visão demasiadamente pessimista
Hoje
prevalece a visão demasiadamente pessimista do casamento. Em vez de frases
românticas, colecionamos ditados e conceitos chocantes: "O amor é eterno
enquanto dura"; "Quando a pobreza bate à porta, o amor voa pela
janela"; "O amor faz passar o tempo e o tempo faz passar o
amor".
E ouvimos
conselhos absurdos: "Se não fosse bobamente moralista, teria tido mais
amantes e menos maridos" (Elizabeth Taylor, atriz); "Hoje o que eu
consideraria ideal seria poder ter duas, três, quatro mulheres, amigas,
namoradas eventuais, e elas terem dois,
três, quatro homens" (José Angelo Gaiarsa, psiquiatra); "Se a gente
pensar bem, o casamento nunca foi necessário" (Flávio Gikovate, psicoterapeuta).
Por essa
razão, casa-se cada vez menos e cada vez mais tarde. Ao mesmo tempo separa-se
cada vez mais (de 81.130 divórcios e 76.200 separações judiciais em 1991
passamos para 129.520 divórcios e 99.690 separações em 2002). Metade dos
casamentos na Inglaterra acaba antes de completar 18 meses. Entre os americanos,
o índice de divórcio é de 50%. Pela mesma razão, o número de uniões consensuais
tem aumentado das uniões celebradas no
ano 2000 no Brasil, 70,5% foram oficializadas, enquanto que 29,5% foram
informais.
a visão prudentemente realista
Do ponto de
vista cristão, o casamento é uma instituição natural, inaugurada por Deus logo
após a criação do homem e da mulher. Une duas pessoas de sexos diferentes para
viverem em companhia agradável uma da outra, até que a morte ou a infidelidade
contumaz e irreversível de um ou de ambos os cônjuges os separe.
Mesmo fora
do meio cristão, considera-se que o casamento é bom para a saúde física e
mental e para a vida sexual. Pessoas casadas têm câncer e problemas cardíacos
mais raramente e vivem mais, de acordo com a revista alemã Neus Leben, que se
baseou em dados científicos. Entre os casados, o número de suicídios é menor.
Ser casado, conclui a pesquisa, é um dos fatores que mais podem influenciar a felicidade
pessoal. E, ao contrário do que se afirma com freqüência que nada é mais prejudicial à realização
sexual do que ser fiel a vida inteira, estudos demonstram que pessoas casadas
fazem mais sexo do que os solteiros e que a qualidade de vida sexual dos
casados é significativamente melhor.
A visão
prudentemente realista do casamento não é simplória como a visão demasiadamente
otimista e menos negativa do que a visão demasiadamente pessimista. A Bíblia a
exalta sobre estas outras.
Primeiro, a
Palavra de Deus valoriza tanto o casamento que em seu cânon há um livro que
descreve o amor apaixonado de um homem e uma donzela, que trocam entre si juras
de amor e elogios de beleza física e sensual. Trata-se do Cântico dos Cânticos,
o mais belo dos 1.005 poemas da lavra de Salomão.
Segundo,
logo no primeiro livro da Bíblia, conta-se a história das três famílias da era
patriarcal (1900-1600 a.C.), sem se esconder os problemas domésticos de Abraão
e Sara, Isaque e Rebeca, e Jacó e Raquel. O trecho todo ocupa três quartos do
livro de Gênesis (do capítulo 12 ao 50).
Portanto,
que haja um equilíbrio entre o sonho apaixonado do Cântico dos Cânticos e a
realidade do dia-a-dia do livro de Gênesis, um balanço entre encantamento mútuo
e obrigações mútuas.
É isso que
nos leva e nos prende à visão prudentemente realista do casamento. Tem razão
aquele que acrescentou à passagem do Cântico dos Cânticos "o amor é tão
forte como a morte" (Ct 8.6)
estas
palavras: "mas tem a fragilidade do vidro"!
FACEBOOK DO
EDITOR
http://facebook.com/JOSEGERALDODEALMEIDA

Nenhum comentário:
Postar um comentário